O eterno candidato Levy Fidélix pode ser chamado de tudo, menos de perdedor. Já tendo participado de 13 eleições desde 1984, pleiteando os cargos de vereador, deputado federal, prefeito, vice-prefeito e governador de São Paulo, e o de Presidente da República nas duas últimas disputas, o mineiro de 62 anos garante que não pretende desistir.
Fidélix não participou ativamente da política em seu estado natal. Mudou-se para Rio, onde chegou a estudar Comunicação Social - hoje um curso nada conservador - e, mesmo não concluindo o curso, atuou na área; participou da fundação de um agência e duas revistas, além de ter sido assessor da campanha de Collor. Em 1992, já há 8 anos em São Paulo, funda o PTRB, que em 1997 dá origem ao atual PRTB, Partido Renovador Trabalhista Brasileiro.
Se hoje Fidélix já pode se apresentar como símbolo da direita e do conservadorismo brasileiro, o PRTB já se declarou Centro e de Centro-Direita. Em 2010, após obter apenas 57.960 votos (0,06%), terminou o 1º turno em 7º lugar. No segundo turno, apoiou a candidata do PT, Dilma Rousseff [+]. Em 2014 a história foi bem diferente: obtendo 0,43% do eleitorado no primeiro turno (446.878 votos), o candidato apoiou Aécio Neves, do PSDB [+].
Nas eleições de 2014, Levy Fidélix não apresentou grandes mudanças em seu discurso, mantendo o Aerotrem em destaque e frisando a preocupação com a família brasileira, a educação, a juventude e o combate às drogas. A defesa à família brasileira não foi um tema trazido por sua campanha - o candidato Pastor Everaldo do PSC repetiu a frase em todos os debates e nas propagandas televisivas, além de ser uma das bandeiras desgastadas da Bancada Evangélica.
Além disso, o casamento gay só entrou em pauta graças às alterações feitas na seção do programa de Marina Silva do PSB (única dos três principais candidatos a debater o tema) dedicada aos direitos LGBT (a candidata mudou o termo para "união civil entre homossexuais", já garantida por lei); embora fosse uma das principais bandeiras de candidatos como Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL).
Fidélix nunca entrou realmente no assunto, nem em propagandas nem em debates. Em entrevista ao site de humor Não Salvo, se posicionou nominalmente, pela primeira vez, contra o casamento gay, mas de forma leve e com certa descontração, alegando que "segue a normalidade do casal que terá filhos".
"Imagina só se nós autorizarmos que todo mundo se case nesse pais... as pessoas que exatamente não podem reproduzir. Daqui a pouco vai acabar até a população brasileira, de 203 milhões vira para 100 logo." [+]
Além dele, apenas Eduardo Jorge, Luciana Genro foram às entrevistas do Não Salvo. Talvez tenha sido essa declaração, e as trocas de elogios constantes entre Levy e Everaldo, que levaram a candidata do PSOL a confrontá-lo com o tema no debate promovido pela TV Record, no dia 29 de setembro. Assista ao vídeo abaixo.
O tema da pergunta foi escolhido por Genro que, naquela rodada, não teria tréplica. A candidata do PSOL mostrou, assim como a maioria dos telespectadores, surpresa com a reação de Levy; "pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho", "aparelho excretor não reproduz", "esses que têm esses problemas sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, bem longe mesmo porque aqui não dá", foram algumas das frases mais chocantes ditas pelo candidato, que ainda convocou "a maioria" para enfrentar "essa minoria".
O bloco terminou ao fim da pergunta seguinte, de Fidelix ao candidato Pastor Everaldo. No bloco seguinte, o tempo foi reservado para as declarações finais de cada candidato, e nenhum se posicionou contrário às declarações homofóbicas do bloco anterior ou tocou no tema.
No intervalo de dias, entre os debates da Record e da Globo, houve protestos de movimentos sociais, principalmente os ligados à causa LGBT, beijaços gays em algumas capitais, e protestos nas redes sociais; no twitter, por exemplo, rede em que Luciana Genro e Eduardo Jorge ganharam bastante popularidade, os candidatos conseguiram levantar hashtags sobre o tema.
Os principais candidatos à Presidência da República voltaram a se enfrentar no debate organizado pela TV Globo, no dia 2 de outubro. Podendo escolher a quem perguntaria, Eduardo Jorge (PV), convocou Levy Fidelix para, segundo ele, "se desculpar a sociedade" pelas declarações feitas no debate anterior. Levy não se mostrou arrependido, nem amenizou as declarações, partiu para o ataque, afirmando que Eduardo seria um criminoso, ao influenciar os jovens a usar drogas e a praticarem o aborto, claramente deturpando as bandeiras do candidato.
Depois da tréplica a Eduardo Jorge, Levy Fidelix deveria decidir a quem dirigiria uma pergunta referente ao tema "combate as drogas". Luciana Genro, ele escolheu. Assim o clima do embate anterior foi mantido, mantendo-se os ataques pessoais. Em sua réplica, fez questão de se defender das acusações de "ato criminoso", negando que deveria sair preso do debate da Record. Com direito a tréplica, Luciana destacou a luta pela criminalização da homofobia e da educação contra a discriminação nas escolas, segundo ela, "para que não tenhamos mais adultos" como Fidelix.
Apenas essa sequência de fatos sobre o mesmo tema podem explicar o boom do eleitorado do candidato do PRTB. O Brasil é um país conservador, independentemente de ideologia política ou religião, e muito desse conservadorismo é demonstrado na hora do voto. Quando Fidelix era só um baixinho engraçado que brigava pelo aerotrem, mal conseguia apoio. Menos ativo nas redes que a maioria dos candidatos, apenas o discurso de ódio feito em duas ocasiões foram suficientes para aumentar seus eleitores em dez vezes.
Caso pensado? Na segunda vez, provavelmente, já que Fidelix sempre se manteve alheio ao tema. E depois de um resultado expressivo como este, dificilmente não voltará a explorá-lo.
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